segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Nascimento da Laura

Nós tínhamos dois meninos e parecia o suficiente, no fundo eu não me imaginava mãe de uma menina, mas admirava quando via uma toda de cor de rosa.
O tempo era corrido em nossa casa nesta época, eu era síndica do edifício que morávamos e o Marcelo tinha 3 empregos, ele saía de casa às 6:30 da manhã e retornava às 23:00 da noite. Foi um tempo difícil!
Minha vida era um sufoco, pois o edifício e meus afazeres de casa tomavam todo tempo e paciência minha. Eram moradores me chamando pelo interfone o dia inteiro e muitas vezes durante a noite e madrugada. Eles viam que por eu ser mulher e estar sempre desacompanhada do marido, podiam abusar de minha paciência!
Bem nesta época meu filho caçula começou me pedir uma irmã, do dia pra noite ele encanou com isso e a todo o momento nos lembrava com cobrança!
Certo dia minha paciência estava mais curta do que o normal, e quando ele tornou a me pedir uma irmã, não tive dúvida e mandei ele se entender com Deus. Eu já havia explicado que eu tinha um problema e não conseguiria engravidar novamente, mas ele ignorava este fato, e sendo assim falei para ele se entender com Deus, pois só Ele poderia resolver este problema para ele.
Depois de alguns minutos meu filho volta e me diz assim: “mamãe, eu já oei pa Jesus e Ele me falou que vai me dá uma imã que chama Laula, tá bom?” Eu achei lindinho o jeito de falar dele e não dei a menor importância para a fé daquele pequenininho! Achei que ele próprio tinha criado aquela história, dei um “hã hã” pra ele e continuei com minha correria.
No dia seguinte meu filho já queria comprar roupinhas pra Laura, ficava falando o tempo todo sobre essa menina, fazendo planos etc. Eu andava nas ruas com ele, e tudo que fosse de menina, ele queria comprar. No começo achei que fosse passar logo, mas aquilo já estava me preocupando. Fui falar com minha mãe, pois ela é psicopedagoga e poderia me ajudar administrar essa situação. Ela me aconselhou a ignorar, pois passaria logo! Mas ele não desistia!
Três meses depois, estávamos nos preparando para sairmos de férias por uns dias, era dezembro e os meninos estavam animadíssimos, porque era raro termos tempo pra isso! Estava quase tudo pronto quando comecei à passar mal do estômago, achei que minha gastrite estivesse atacada, mas a coisa foi piorando e eu não tinha condições de pegar a estrada daquele jeito! Adiamos nossa viagem para o outro dia e fui ao médico, e achei um absurdo a suspeita do diagnóstico dele! O médico me pediu um exame de gravidez! Vê se pode? Dos meninos tive o maior trabalhão pra engravidar à base de tratamentos, essa hipótese de eu estar grávida assim do nada, era absurda!!! O que eu tinha que aprender é que a soberania de Deus existe, e a fé de uma criança é muito séria pra Deus!!!
Quase caí de costas quando abri o resultado e li: “positivo”, comecei à chorar no carro, estávamos eu e o Pedro. Ele me perguntou por que eu estava chorando, e falei que era porque eu estava feliz em estar grávida! Ele pegou o resultado em sua mãozinha e ficou pulando no banco do carro falando: “ela vem vindo”. Nunca mais vou esquecer aquela cena!!!
Quando chegamos ao prédio, o Pedro correu para a portaria com o resultado na mãozinha dizendo: “olha sr. Joel, minha irmã escreveu uma carta falando que ela está chegando, olha !”. O porteiro pode não ter entendido nada, mas eu entendi o poder da fé de uma criança, e como Deus honra isto!
Aquilo foi um tabefe em minha cabeça, um verdadeiro “presta atenção” de Deus em minha vida! Como aquele menininho poderia ter tanta fé e eu que já conhecia tanto de Deus ( ou melhor, achava que conhecia ), não conseguia crer como ele! Mesmo com o resultado em mãos, só me vinham as dúvidas e as preocupações de como seria daqui pra frente?
O Pedro fez exatamente como Jesus esperava que eu também fizesse, ele comemorou até ficar exausto e em momento algum transpareceu outra coisa senão alegria! Mas eu não conseguia pensar em outra coisa senão as preocupações com o futuro, enfim peguei aquela bênção linda e transformei em peso pra mim! E era justamente aí que Deus queria me mudar!
Eu estava passando muito mal com náuseas o tempo todo, e nem convênio médico eu tinha para procurar uma ajuda. Fui trabalhando a trancos e barrancos, levando um dia de cada vez.
Tudo do enxoval dos meninos eu havia doado e não tinha mais nada em casa e seria muito difícil comprar tudo de novo, pois estávamos muito apertados financeiramente!
Fui orar com uma irmã muito querida, a irmã Maria do Carmo, eu coloquei meu desespero diante de Deus, pois estava sem convênio médico, sem marido para me acompanhar, sem dinheiro, e com um caminhão de problemas no prédio pra resolver, pois estava tudo atrasado devido a minha indisposição quase que diária!
Naquele dia o Senhor me tranquilizou usando aquela irmã, Ele me disse que aquele bebê teria tudo que precisasse, e que eu apenas aguardasse o milagre diante de mim.
Os primeiros meses se passaram e eu estava no terceiro mês de gravidez, quando consegui uma consulta de pré-natal, fiquei desesperada com o descaso do médico, pois além de nem medir a pressão, não olhava nem no rosto das pacientes! Quando orei por isso, o Senhor me deu o sentimento de procurar os cartões dos outros pré-natais que fiz com minha médica do convênio e segui-lo. Assim fiz até o sétimo mês, exames foram apenas uns hemogramas que sempre davam anemia, como tenho um problema de talassemia. Esse problema foi acompanhado de muito perto nas outras gestações porque a ausência de ácido fólico pode causar sérios danos cerebrais no bebê, essa anemia é genética e precisa ser acompanhada a vida toda, principalmente em gestações; o que não deram nenhuma atenção.
Eu não tinha outra saída senão confiar no Senhor, tomar minhas vitaminas e tocar adiante. Fiz apenas um ultrassom que me foi doado por uma moradora do prédio, que tinha acesso a uma clínica de radiologia.
Nesta época o Marcelo conseguiu me colocar em um convênio, não era lá essas coisas, mas era melhor que o público! Fiz um hemograma e os médicos me mandaram imediatamente para o hematologista, pois os meus resultados eram os mesmos de pacientes que estão em grave risco de vida!
Em minha primeira consulta com o hematologista, ele ficava olhando para mim e para o resultado do exame com uma cara de espanto notória! Depois de muita análise sobre o quadro, ele me disse que não sabia como eu estava ali em sua frente, pois eu não teria condições de estar em pé devido ao grau da anemia e que meu bebê corria sério risco de vida! Então me encaminhou para a internação e me receitou um soro preto, com mais ou menos 1 litro e meio, que continha TUDO que se possa imaginar em vitaminas dentro dele!
Depois de dois dias retornei a fazer os exames e nada! Os índices eram os mesmos e os médicos não acreditavam. E assim repeti esse processo por várias semanas, e nada! O médico me encaminhou para uma transfusão de sangue alegando que eu não suportaria uma cirurgia como a cesárea. No mesmo instante recusei, pois isso é muito arriscado para o bebê! O hematologista se recusou a continuar me acompanhando depois de minha recusa, ele alegava que não poderia fazer mais nada e era pura loucura eu passar por um parto naquela situação. Não me importei, sabia que o mesmo Senhor que tinha feito o milagre de minha gestação, cuidaria de nós duas!
Fomos para casa e oramos por isso, todos ao redor estavam em pânico, eu iria para um parto de alto risco sem saber em qual hospital ou quem faria o parto, nem cartão de acompanhamento eu tinha! Mas eu estava em paz, não sei como consegui atingir aquele nível de entrega, só sentia o tempo todo algo me dizendo que Deus estava no controle! E estava mesmo!!!
Lembro do dia que fui orar por meu parto, que Deus não soltasse de minha mão nenhum instante, eu me sentia ao mesmo tempo muito tranquila e triste por estar passando um momento como aquele! Quando fui me entregando em minhas orações, ouvi nitidamente uma voz me perguntando onde e com quem eu gostaria de ter meu bebê!
No primeiro instante titubeei em responder, mas em seguida reconheci aquela voz em meu interior, e coloquei todos os desejos de meu coração diante do Senhor. A única coisa que ouvi em seguida foi a pergunta se eu conseguia crer que Deus poderia atender todos aqueles desejos. E respondi que sim sem dúvida alguma!
A partir daquele dia tudo começou chegar aos meus olhos, a Laura ganhou um quarto todo coordenado desde a lixeirinha até o berço, com cortinas, trocador, enfeite de porta pro hospital, carrinho, babá eletrônica, e um enxoval completo!!! O Marcelo tinha uma amiga que havia tido um bebê há um ano, e queria trocar a decoração do quarto de seu filho, mandando para mim tudo o que era de bebê! Ficou lindo, até cadeira de balanço Deus me abençoou!
Nenhum de meus filhos teve um quarto tão lindo e com tanto enxoval, como a Laura! Depois daquele presente de Deus, sabia que tudo iria dar certo.
As mulheres do prédio fizeram um chá de bebê e arrecadaram muitas fraldas descartáveis, aliviando o nosso orçamento. Faltava apenas 30 dias para o parto e o Marcelo foi enviado para os EUA a trabalho, devendo ficar por lá uns 15 dias. Foi muito difícil ficar sozinha naquelas condições, eu chorava literalmente todos os dias, quase não conseguia falar com o Marcelo quando ele me ligava, só chorava!!!
Estava tudo pronto para o parto e eu continuava crendo que Deus era fiel comigo e que eu não estava sozinha!
O Marcelo chegou faltando uns dias para o parto. Foi quando soube que sua empresa tinha feito um convênio médico para os funcionários, mas estaria valendo só para o outro mês! Ou seja, não daria tempo!
Liguei para meu antigo médico e expliquei a situação, ele me disse para ir até lá fazer uma consulta e que esperaria o convênio liberar tudo depois. Assim fui.
Chegando lá imediatamente ele diagnosticou que meu útero estava prestes a romper, e que se isto acontecesse não daria tempo de salvar mãe e filha, por isso me mandou para onde? Para o hospital que eu havia pedido em oração a Deus, e me falou que faria o parto e que depois acertaríamos as questões burocráticas do convênio. Em uma hora já estava no hospital me preparando para o parto! Eu nem podia acreditar, era o hospital que pedi, o médico que pedi, tudo certinho... Só não sabia como íamos acertar tudo aquilo, pois o médico espera pra receber, o hospital não! Mas Deus é fiel!
Um amigo e irmão em Cristo que trabalhava com o Marcelo viu a nossa situação e acelerou o processo da adesão do convênio. A Laura nasceu dia 2 de agosto à noite, e dois dias depois do parto, exatamente no dia de acertar a conta com o hospital, a liberação do convênio saiu, e como era plano empresarial não teria carência, sendo assim o convênio arcou com todas as despesas e eu tive minha filha no lugar e com quem eu queria, pra honra e glória do Senhor!
Outro detalhe que me esqueci foi que quando cheguei na sala de parto, me deram a anestesia e em seguida meu útero rompeu, mas como já estava tudo pronto, conseguiram tirar a Laura e estancar a hemorragia uterina a tempo, pois é justamente ela que causa o óbito.
Hoje estou aqui testemunhando tudo isto, pra que o Senhor Jesus seja exaltado, e que a fé de todos que lerem, sejam edificadas em Cristo!
Minha filha é uma bênção em nossas vidas e será sempre uma prova viva do amor de Deus por nós! Obrigada Pai!

Cecília Vassiliades Padua
03/12/07

Nenhum comentário:

Postar um comentário